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Acidentes com lagartas aumentam nas férias de verão; veja os cuidados

Período de calor favorece contato com o animal, uma vez que as crianças tendem a passar mais tempo ao ar livre (Foto: Freepik)

As férias e o período de calor favorecem o contato com as lagartas, uma vez que as crianças tendem a passar mais tempo ao ar livre devido às férias escolares. É nesta mesma época que aumenta a população dos insetos em estágio larval. Os casos foram mais frequentes durante os meses de verão – exceto no Nordeste, quando o pico de incidência foi em maio.


Identificação e tratamento

As lagartas com potencial para causar acidentes são o estágio larval de um grupo chamado de lepidópteros e dividem-se em duas grandes famílias: a Megalopygedae, que engloba as famosas “cabeludas”, geralmente de hábito solitário; e a Saturniidae, que compreende as chamadas “espinhudas”, como as Lonomias.

Reprodução: Instituto Butantan

A família Megalopygedae engloba as chamadas “cabeludas”. Dependendo do estágio em que se encontram, variam de um a oito centímetros de comprimento, têm hábito solitário e apresentam coloração castanha, branca, preta ou rosada. Seus longos e sedosos pelos são inofensivos, porém escondem cerdas pontiagudas capazes de provocar dor persistente, queimação e irritação na pele.


Já a família Saturniidae compreende as “espinhudas”. O grupo inclui as lagartas do gênero Lonomia, que têm maior relevância médica pois podem ocasionar acidentes graves e até a morte. Têm coloração marrom-esverdeada, listras longitudinais castanho-escuras e padrões brancos em forma de U distribuídos por todo o corpo, além de inúmeros espinhos verde-claros que lembram o formato de pequenos pinheiros – é por meio desses dispositivos que elas inoculam seu veneno. No estágio antes de virar casulo, podem alcançar mais de cinco centímetros de comprimento. Outra característica importante é que as Lonomias têm hábito gregário, ou seja, vivem em bandos por exalarem um feromônio de atração. 


Em 70% dos casos de erucismo – nome dado ao quadro clínico provocado pelo contato da pele com as cerdas das lagartas –, as regiões das mãos e dos braços são as mais atingidas. Sintomas como dor em queimação, às vezes intensa, vermelhidão e inchaço local podem aparecer. Na maioria das vezes, porém, o desfecho é positivo e não envolve o agravamento do quadro de saúde. 


Em casos mais sérios, o veneno presente nas cerdas da lagarta Lonomia (leia abaixo), provoca alteração na coagulação e hemorragia grave, caracterizada principalmente pelo surgimento de manchas roxas em diferentes partes do corpo. Pode ainda causar lesão nos rins, incluindo tratamento com hemodiálise.


Em caso de contato com qualquer tipo de lagarta, a recomendação é lavar o local com água corrente e sabão neutro, e realizar compressas de gelo para amenizar a dor. Se for possível, tire uma foto do animal e siga imediatamente para a unidade de saúde mais próxima para uma correta identificação e a consolidação dos protocolos de diagnóstico e tratamento. 


Acidentes com Lonomias

Dos 26.941 acidentes com lagartas registrados no Brasil entre 2019 e 2023, cerca de 20% envolveram crianças de até 9 anos, segundo Boletim Epidemiológico divulgado recentemente pelo Ministério da Saúde.

“É importante reforçar a atenção durante o período, principalmente em relação às lagartas Lonomias. Elas costumam viver aglomeradas nas árvores e a coloração se confunde com o tronco, o que dificulta a visualização”, aponta a diretora de produção de soros do Instituto Butantan, Fan Hui Wen.


Capaz de causar acidentes mais graves e até provocar a morte, esse gênero de lagarta foi responsável por mais de 4 mil acidentes no intervalo analisado pelo boletim. Para efeito comparativo, 6.636 acidentes com Lonomias foram registrados entre 2007 e 2018.


Dados detalhados do sistema DataSUS mostram que o Sudeste é a região com maior notificação de casos (2.110), com o Nordeste (746) e o Sul (733) figurando na sequência. Entre os estados, no topo da lista está Minas Gerais (1.199), seguido de São Paulo (818), Santa Catarina (342) e Rio Grande do Sul (329).


Quando analisada a necessidade de tratamento com soro antilonômico – único produto capaz de neutralizar os efeitos moderados e graves desencadeados pela toxina da Lonomia –, os números do Ministério da Saúde mostram que os acidentes mais relevantes concentram-se no Sul: das 733 notificações feitas na região, 134 demandaram o uso do antiveneno, sendo 71 apenas no estado de Santa Catarina. Já no Sudeste, onde, teoricamente, há uma maior concentração de acidentes, apenas 79 casos demandaram soroterapia.

“Essa desproporção entre o número de acidentes e um baixo uso do antiveneno mostra que, provavelmente, está ocorrendo uma confusão no momento da identificação do animal, e acidentes provocados por lagartas diferentes estão sendo notificados como sendo por Lonomias. Isso se justifica porque há várias outras lagartas com características semelhantes, mas que não provocam os efeitos que tornam o soro antilonômico necessário”, observa Fan Hui Wen. 


Disponível gratuitamente em todo o território brasileiro pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 1996, o chamado soro antilonômico foi desenvolvido de forma pioneira pelo Butantan, que segue sendo o único produtor mundial do antiveneno. 


Acidentes com óbitos

A rapidez no atendimento médico pode fazer toda a diferença. Para se ter uma ideia, a taxa de letalidade de um acidente com lagarta salta de 0,02 na primeira hora – considerando o tempo entre o contato com o animal e o atendimento médico – para 0,34 quando o intervalo supera as 24 horas. Dos 12 óbitos sinalizados entre 2019 e 2023, quatro superaram essa marca de tempo. Além disso, a maioria envolveu pessoas do sexo masculino acima dos 50 anos e que estavam em áreas rurais. 


Três mortes foram provocadas especificamente por contato com Lonomia, mas equívocos no preenchimento do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) podem ter levado à subnotificação.


Do Instituto Butantan

Imagem: Freepik

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